O Natal sempre foi uma quadra da qual gostei muito. Era um motivo para celebrar, receber presentes e estar com aqueles que mais gostava... era um motivo válido para reunir a família toda e ver os primos todos que por alguma razão não conseguimos ver no resto do ano ou desde o ultimo festejo. Esquecem-se velhas desavenças porque algo maior se sobrepõe, o nascimento de Cristo e uma altura de paz, prosperidade e união, pelo menos aos olhos dos outros. Porém a minha vontade de transparecer tudo isto deixou de ter sentido quando se deu o desaparecimento da razão pela qual estávamos todos reunidos nesta altura, o meu avô. Que mais do que um avô era o que mais se assemelhava a um pai para mim e que, milagrosamente (ou talentosamente) conseguia fazer com que todos nos reunissemos sem que as diferenças, discussões e mágoas tivessem efeito numa época tão importante. O seu desaparecimento deu-se há 4 anos, e é incrivel como ele se faz tão presente em mim como quando estava vivo.
Neste ano de 2009 a minha indiferença quanto a esta época tornou-se numa aversão que mal consigo conter e muito menos controlar. Desde Outubro que a minha irritação tem vindo a aumentar, tudo à minha volta transparece este espírito, e tudo me diz para afastar-me dele. Apetece-me partir tudo o que impregna o ar com esta essência que transborda de alegria, esperança e sobretudo paz. As bolas de natal, o pai natal, as árvores, as luzinhas, os anúncios, os hipermercados, as pessoas! Que raio! Será que não tenho direito de fazer passar este tempo em branco se me apetecer?? Aparentemente não... tudo é contagiado e isto mais parece um vírus sazonal que as grandes “farmaceuticas” lançam na atmosfera para contagiar toda a gente. Posso dizer seguramente que este vírus e muito resistente a mentes fechadas e pessoas carrancudas, porque este vírus acaba por contagiar toda gente, até o mendigo do bairro alto sente vontade de comprar 1 prenda ao vizinho de barraca.
Qual sentido de contagiar toda a gente?? Levar as pessoas comprarem tudo o que podem (e muitas vezes o que não podem) em nome de uma celebração que neste momento é mais um negócio. Todos ganham, o mendigo do bairro alto ganha umas quantas refeições da caridade alheia, o avô ganha 1 pijama ou umas meias para se aquecer, o menino ganha uma data de brinquedos, os pais do menino ganham instrumentos bonitos e o sorriso do gaiato e mais uma vez se compra um ano de desprezo pelas grandes causas por uma boa acção no natal. O natal é quando um Homem quiser, sinceramente, que frase mais parva. Não é preciso ser natal nem no coração das pessoas para que estas façam uma boa acção, basta a vontade de ser diferente, a vontade de tornar especial o dia do próximo.
E, no fim do Natal vão todos voltar às suas rotinas apenas com menos dinheiro e com mais objectos, os irmãos voltam a não se falar, os primos deixam de se ver, e as pessoas voltam a ser o que eram como se nada tivesse acontecido, pelo menos nada de significativo. Nada mudou a não ser o calendário e meia dúzia de objectos novos.
E podem acusar-me de ter comprado presentes, e de ser mais uma hipócrita... Não, não me deixei contagiar...só achei que as pessoas que são importantes na minha vida deviam saber que eu me importo com elas e que são importantes para mim... pode parecer hipocrisia...mas já que não posso desaparecer durante estes dias e serei "obrigada" a comemorá-los e fingir que me sinto toda eu uma natalícia nata...
Parece que é a vida...