A poucos quilómetros de Lisboa vê-se uma névoa. Quase parece nevoeiro, mas é o negro da cidade que se levanta com os primeiros carros. Ninguém no autocarro deu pela mesma névoa que eu, mas as tosses são constantes:
- É o frio!
ou:
- Estas viroses de Verão!
O cinzento, branco e as cores mortas intensificam-se à medida que vamos entrando na cidade. Os carros acelerados, as pessoas apressadas e custa-me a crer que me tornei numa delas, demasiado presa à minha rotina...
Nunca fui uma pessoa de rotinas certas, sempre tive prazer em ir ao meu ritmo e conforme o estado de espírito. O espírito está cansado, a alma sente-se vazia e eu... Bem eu sinto-me estagnada.
Estagnada numa vida que nunca quis ter, numa rotina que não reflecte o que sou. Tornei-me numa lisboeta, máquina automatizada para andar sempre à pressa, sair de casa ainda de noite e chegar a casa já de noite.
Tenho tido necessidade de rezar, mas o medo de que se torne mais uma das minhas rotinas que acabo por fazer mais por obrigação impede-me de ter vontade.
Os dias andam como eu, começam com a esperança de um belo sol... mas chegam à hora de almoço incobertos pela incerteza e cansaço.
Olho à minha volta, e descubro que, há muita gente como eu, cansada da rotina e stressada pelo pouco tempo para tudo. A diferença entre mim e essas pessoas é que elas conformaram-se com essa rotina e muitas vezes já não conseguem sair dela, tornaram-se dependentes dessa rotina.
Eu...